Flic encerra atividades com abordagem histórica e literária sobre Congonhas
O último dia da 4ª Festa Literária de Congonhas (Flic) foi aberto por escritores nascidos na região de Congonhas – Luiz Miguel, Artur Laizo, Cláudia Guimarães e Allan Francis Salgado – que conversam sobre suas experiências literárias e as influências que ressoam entre suas vidas e a produção artística.
Em seguida, o historiador André Candreva discorreu sob seu trabalho de pesquisa “Trem do Bispo nos trilhos da fé”, que relata todo o período da implantação do antigo ramal ferroviário entre Lobo Leite e Congonhas, que só foi inaugurado em 1892, fortalecendo o comércio local e o próprio Jubileu de Congonhas. Dom Silvério, então arcebispo de Mariana e natural da cidade, teve participação efetiva neste capítulo da história local.
A FLIC foi encerrada com o Cortejo literário, conduzido pela Banda Sinfônica da Secretaria Municipal de Educação, do Museu até a entrada da Romaria, onde o público e os organizadores declamaram poemas.
Este ano o lema da Flic foi “Memória, literatura e história”, em consonância com o dos museus da cidade que é “Congonhas, cidade de devoção e fé”.
A exemplo do domingo, os outros dias da Festa Literária demonstraram o interesse do congonhense por conhecerem melhor sua história e por desenvolverem novos olhares sobre o mundo e sobre si mesmo. Os jovens fizeram bate-papo descontraído com a escritora Laura Conrado, de Belo Horizonte, que falou um pouco da força das palavras.
A criançada se encantou com o jornalista Léo Cunha, com seu livro “Um dia, um rio”, que retrata de maneira delicada a tragédia da lama na cidade de Mariana. O mesmo ocorreu na conversa dos de três turmas do 4º ano da Escola Municipal Judith Augusta com Denise Martins, escritora do público infantil, que procurou a secretária de Educação de Congonhas, Maria Aparecida Resende, após o evento, para relatar o contentamento dela como o diálogo que manteve com as crianças e com a receptividade que obteve. Outro momento em que meninada viajou através das palavras foi quando alunos da Escola Municipal Padre Jacinto Pinheiro ouviram histórias contadas pela auxiliar de biblioteca, Júnia Ferreira.
Para quem quer arriscar em verso ou prosa, “Como é ser escritor no Brasil?”, de Marina Carvalho, demonstra bem os sabores e dissabores de se enveredar por este caminho.
Pedagogas, professores, diretores de escola, vice-diretores, auxiliares de biblioteca, secretários escolares o público em geral conversaram com escritor paulistano Rafael Carvalho sobre sua experiência como um dos 24 poetas participantes do Projeto Leve um Livro, de Belo Horizonte, com o “O bico do pássaro”. “Este projeto desmistifica a literatura contemporânea, levando a poesia para onde as pessoas estão. A Flic também incentiva o cidadão a ler”, afirmou. Rafael realizou o pré-lançamento de seu livro de poemas “Bambuzal” em Congonhas, um dia antes de apresentá-lo ao público de BH.
O escritor Aguinaldo Tadeu, que morou por muitos anos em Congonhas, lançou as publicações “A voz dourada das cidades” e “32 cartas”. “Quem vive em Congonhas tem um compromisso com a arte. Me fiz escritor a partir de Congonhas, pela vivência que eu tive nessa cidade tão rica de cultura. Toda vez que for lançar um livro faço questão de passar por aqui”, prometeu.
O congonhense Rafael Senra também lançou sua obra “Olhar de Bicicleta” durante esta edição. Rafael é ainda narrador e personagem principal do livro e, por isso, o enquadra como “autoficção”. Com certa liberdade poética, escreveu sobre os doze anos que morou em São João del-Rei, quando cursou graduação e mestrado em Letras na UFSJ. “Olhar de Bicicleta” se mostra como um exercício poético e filosófico a respeito de diversos assuntos. Da mesma forma que a escrita surgiu do corte da terra pelo traçado, feito na agricultura, a bicicleta também deixa seu traço na terra, mas de forma livre. E nela um jovem tentando descobrir o mundo”, explica o autor.
Mas teve lançamento de revisita também durante a Flic. A publicação cultural “Mitocôndria” escolheu o Museu de Congonhas como capa e trouxe uma matéria especial sobre o Centro Cultural. Além disso, a fotógrafa congonhense Eliane Gouvea foi a profissional responsável pelo ensaio fotográfico da edição, com fotos que retratam a fé e a devoção durante o período do Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.
A FLIC abriu espaço também para o Grupo de teatro Boca de Cena apresentar o espetáculo “Brejo das Almas”, de Carlos Drummond de Andrade! A peça foi selecionada no projeto “Congonhas faz Cultura”, da Fumcult, e também faz parte da programação da Flic.
Letícia Vieira Fernandes, de 10 anos, aluna do Colégio N. Sra. da Piedade, fez um poema especialmente para a Festa Literária, chamado “Leitura que nos Move” e o declamou na entrada da Romaria, após o cortejo literário, que encerrou esta edição da Festa Literária. “Para escrevê-lo, eu me inspirei na minha experiência com a escrita e a leitura, porque desde que aprendi a escrever, faço poemas, os livros que li me ajudam”, conta acompanhada da mãe Daniela Vieira que garante, que relata: “A Letícia aprendeu a ler com quatro anos, sozinha, e, desde então compro livros para incentivá-la. Aos 8 anos, ela começou a escrever poemas e já tem um livrinho. O interesse dela tem relação com o meu. Vim ao Museu todos os dias da FLIC, sou leitora assídua”, afirma.
A diretora da Escola Municipal N. Sra. d’Ajuda, do Alto Maranhão, Solange Fátima Rezende Leal, gostou de esta edição ter valorizado bastante autores de Congonhas e mostrado a realidade deles. “Mas também achei muito interessante os depoimentos de alguns de fora. O Luiz Miguel, de Belo Vale, relatou uma história pessoal impressionante, de dificuldades até para conseguir uma cadeira de rodas para ele, que nos dá força para seguir em frente”, diz lembrando ainda que na escola do Alto Maranhão são desenvolvidos os projetos de incentivo à leitura “Centopeia”, “Corujinha” e “Dez Minutos”.
Para a secretária municipal de Educação, Maria Aparecida Resende, “a Flic tomou uma dimensão que superou nossas expectativas. Este ano foram 24 autores, entre convidados e outros que se inscreveram. A participação do público também nos surpreendeu positivamente. Na quinta 350 pessoas estiveram aqui no Museu para as atrações da Flic, na sexta mais 280. Isso chama muito atenção porque no Brasil não tem muita gente querendo falar de literatura, poesia, prova, verso, a escrita de forma geral. Os escritores ficaram impressionados porque nem havíamos programado vendas de livro e, mesmo assim, ela aconteceu. Crianças e adultos querendo literatura e conhecer os autores. Vieram o letrado, o não letrado, a criança, o adulto”.
“Agradeço muito ao Sérgio Rodrigo Reis diretor da FUMCULT e do Museu de Congonhas por ter aberto espaço para a FLIC no Museu de Congonhas, pela parceria e adesão à nossa festa literária. E também todos os colaboradores do Museu e da Secretaria de Educação”.
Na abertura da Flic, na quinta-feira, Sérgio Rodrigo havia destacado destacou o papel do Museu de Congonhas, do Museu da Imagem e Memória e o da Mineralogia. Ele observou que esses espaços devem ser apropriados para fomentar e resgatar a história da cidade. “Conteúdo é o que não falta. Não adianta termos tanto conteúdo se a comunidade escolar não se apropriar destes espaços e os levarem para a sala de aula. Temos um conteúdo transformador. Poucas cidades têm tanta cultura e tanta história como Congonhas”, afirmou.
A Festa Literária de Congonhas é um evento promovido pelo Governo Municipal, por meio da Secretaria de Educação, desde 2014, em parceria com o Museu de Congonhas desde 2016.
Fonte (SECOM)